13 de março de 2011

Uma manifestação não resolve o problema!... mas pode ser o início

Estava em conversa com uma amiga minha sobre a manifestação de ontem e as palavras que trocámos inspiraram-na a escrever o seguinte texto:

200 mil, 300 mil, não sei quantos foram, mas juntaram-se a mim na Avenida da Liberdade e no Rossio e juntos manifestámo-nos contra este futuro de precariedade que nos oferecem. “Precariedade” é um grande chavão! Não basta dizê-lo, é preciso entender o que significa e, em especial, que impacto tem no nosso futuro. No futuro desta geração que dizem ser a «mais qualificada de sempre» mas que se vê a trabalhar em call-centers , etc.

Pior do que ter empregos que não correspondem às expectativas e não fazem uso daquilo que aprendemos nas faculdades, é que, nem aí, conseguimos ter a segurança de um emprego que nos permita fazer planos para o futuro, porque não sabemos se estaremos ali daqui a uns meses. E se isto não parece muito grave quanto se tem vinte e tal anos, vai começar a ter menos graça quando tivermos trinta e tal, quarenta e tal e percebermos que a nossa vida está muito longe daquilo que idealizámos, muito longe daquilo que os nossos pais idealizaram para nós.

Sobretudo, vamos perceber que desperdiçámos décadas de luta por melhores condições laborais ao aceitar trabalhar a recibos verdes, contratos a prazo, horários de trabalho demasiado extensos, etc. Sim, porque não se iludam! A culpa desta situação não é só dos políticos, não é só das empresas, é de nós todos que nos sujeitamos a estas condições. Se não formos nós a lutar por melhores condições de trabalho, não serão as empresas a fazê-lo por nós! Os fins-de-semana não foram criados porque os patrões decidiram ser bonzinhos, foram criados pela luta dos trabalhadores e pelo seu espírito de sacrifício conjunto. E é este espírito que eu acho que se perdeu nesta sociedade individualista, e nesta época em que ser sindicalista está fora de moda e ser comunista é, muitas vezes, motivo de piadas. Esquecemo-nos do que nos ensinaram as gerações anteriores: juntos podemos dizer NÃO. Juntos temos força!

Não acredito na atitude do “se não aceitar estas condições de trabalho, fico sem emprego e alguém as aceitará em vez de mim”. Se começarmos a nossa vida profissional com este espírito, agora que nem sequer temos responsabilidades (a maior parte não tem casa para pagar nem filhos para criar) quando é que vamos começar a lutar por melhores condições? Vamos ficar à espera que esta “crise” passe e que as condições melhorem espontaneamente nessa altura? ISSO NÃO VAI ACONTECER!

Mas se todos dissermos que não, terão de criar melhores condições. Lembrem-se: somos uma geração bastante qualificada, não nos vão substituir por imigrantes brasileiros e, sobretudo, AGORA não temos nada a perder, AGORA é o momento para dizer Não! NÃO não vamos aceitar trabalhar nessas condições nem vamos andar a saltar de estágio em estágio! Somos competentes e podemos ajudar as empresas a crescer e a melhorar, não vamos aceitar que só alguns ganhem com isso! Caso contrário, aquilo que se ouviu ontem na manifestação «à rasca estamos nós, só eles é que não!» continuará a ser verdade por muitos e muitos anos.

Uma manifestação não resolve o problema, mas pode ser o início. Digamos não! Denunciemos a empresas que promovem esta precariedade! E, sobretudo, tenhamos esperança num futuro melhor e na nossa capacidade de o construir. Ontem saímos à rua aos milhares, isso quer dizer que somos muitos a pensar o mesmo, passemos à acção!
Deixo aqui as palavras dela salientando o facto de que se ficarmos à espera que o governo ou as empresas tomem a iniciativa de melhorar as nossas condições de trabalho, bem podemos esperar sentados. Não é do interesse das empresas providenciar melhores condições de trabalho (porque normalmente custam mais), nem é muito do interesse do governo contradizer as empresas. Se queremos que alguém lute pelos nossos direitos não basta sairmos à rua e gritar em plenos pulmões que os temos e que queremos que sejam respeitados... temos de os fazer respeitar.

Se não queremos trabalhar em condições precárias, o que temos de fazer é não aceitar trabalhar em condições precárias. Temos de rejeitar quando nos oferecem essas condições. Se ninguém aceitar estas condições, as condições oferecidas têm de mudar para um conjunto de condições que sejam aceitáveis.

Quando estiverem à procura de emprego lembrem-se que há duas entidades em necessidade: vocês que precisam do emprego, e os empregadores que precisam do empregado. Não são só os empregadores que têm algo para vos dar, os empregados também têm algo a dar aos empregadores. E quando as pessoas se inteirarem disto, vão estar mais confortáveis em dizer "não" a condições de trabalho pouco dignas.

Ouve-se bastante o argumento "se eu não aceitar este emprego, outra pessoa aceitará". À pessoa que aceita o emprego resta consciencializar-se que ao aceitá-lo está não só a prejudicar-se a si mesma, como a prejudicar todos os que estão à procura de emprego. A verdade é que se ninguém aceitar as más condições, a mudança terá de vir do outro lado, de quem faz a proposta de emprego. E neste caso estamos a subir a qualidade de vida, em vez de a baixar.

O que esta manifestação mostra é que há pessoas suficientes que estão insatisfeitas com esta situação para fazer uma mossa. O que agora falta é essas pessoas fazerem algo que faça realmente mossa. Todos nós trabalhadores temos de lutar pelos nossos direitos, não podemos ficar de braços cruzados à espera que alguém lute por nós.

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