1 de junho de 2011

Preço de um Kindle Book

A Amazon parece já se ter apercebido que eu gosto de ler. Não era difícil de adivinhar: já lhes comprei vários livros, até comprei um Kindle. Há uns dias enviou-me um dos mails de publicidade com ofertas especiais em que uma delas era o Conde de Monte Cristo, versão Kindle, a $5 (um livro que posso obter em versão para Kindle de borla no Projecto Gutenberg, já agora).

Ultimamente quando um livro que me interessa me é mencionado a minha primeira reacção é ir ver quanto custa na Amazon. Tipicamente os preços do livro são qualquer coisa do género Versão Kindle é mais cara que a versão em  Capa Dura, que por sua vez é mais cara que a versão em Capa Mole. Dou o Traffic como exemplo. Perante este cenário, como prefiro arranjar uma versão electrónica para dar uso ao Kindle e poupar um bocado o ambiente (papel e custo de transporte), acabo por procurar versões electrónicas da candonga*. Às vezes a qualidade não é das melhores, mas quando algo é de borla a exigência também é menor.

Se a versão electrónica deste livro que eu estava à procura estivesse na Amazon à venda por $5 em vez de $13, provavelmente tinha-o comprado directamente na Amazon sem procurar a versão da candonga (que por acaso até está com boa qualidade). Ficavam a ganhar $5 em vez de "perderem" $13 (sim, estou ciente da falácia que estou a usar).

É absurdo que um livro electrónico seja mais caro que a versão mais cara de um livro físico. Qualquer pessoa com quem falo (mesmo outros donos de Kindles) diz que prefere um livro físico, que pode pegar, folhear, cheirar, a um livro electrónico, sendo essa preferência um dos principais detrimentos à aquisição de um Kindle ou de qualquer outro leitor de ebooks. Ter uma biblioteca de mil livros é certamente mais impressionante se os tivermos numa prateleira do que dentro de um aparelho que ocupa menos espaço que um livro.

Porque é que isto é absurdo? Os livros electrónicos permitem busca, procura automática de palavras no dicionário, saltar imediatamente para o próximo capítulo, ler com um formato (tamanho de letra, espaçamento entre caracteres, bordas) ao gosto do leitor, leitura em alta-voz***. Com estas possibilidades todas poder-se-ia imaginar que se pudesse dar mais valor a livros electrónicos do que a livros físicos, mas os livros físicos também têm as suas vantagens: dão para folhear (e encontrar algo rapidamente usando memória visual), dão para emprestar****, têm melhor tipografia (a forma como o livro está tipografado pode ser realmente artística), e (se calhar o aspecto mais importante) sentimos que realmente temos algo.

Além de que ao que diz respeito às vantagens que mencionei no parágrafo anterior do formato electrónico atribuímos o seu valor ao valor que o Kindle em si oferece, não ao livro específico que estou a ler. Compro um Kindle para poder buscar, pesquisar palavras, ler o livro da forma que me der mais jeito. Esse valor extra está incluído no que pago pelo Kindle, não espero que esteja cobrado sempre que compro um livro. Aliás, a promessa é mesmo que os livros electrónicos vão ser mais baratos, tornando um leitor de livros electrónicos num investimento que quantos mais livros se lerem mais rápido se paga. Isso é certamente verdade ao possibilitar-nos a leitura de livros grátis (como os do Projecto Gutenberg) ao invés de os comprar no formato físico.

Mesmo o processo de produção dos livros dá a ideia que produzir um livro electrónico é bastante mais barato do que produzir um livro físico. Sem conhecimento real de causa é fácil imaginar que os livros hoje em dia são escritos em formato electrónico, ou pelo menos que nalguma fase inicial da sua produção em massa é criada uma versão electrónica do mesmo; há todo um processo de revisão do documento para eliminar erros que será igual tanto para o formato electrónico como para o físico (já que seria feito sobre o formato electrónico inicial, antes de começar a produzir cópias físicas em massa); depois os processos começam a diferir. O formato electrónico será uma questão de converter um formato para outro (é fácil de imaginar que hajam programas que façam isso com relativa autonomia), corrigir alguns detalhes e guardar um ficheiro. O formato físico precisa de tipografia, impressões, papel. É fácil também de imaginar que disponibilizar o formato electrónico para os compradores é bastante mais barato do que fazer o mesmo ao formato físico, onde um é uma questão de colocar num de muitos servidores e permitir o seu descarregamento enquanto que no outro envolve embalagem, viagens de avião/barco, correios locais. Isto sem falar que o processo de criar uma cópia electrónica é praticamente grátis (o proverbial Ctrl+C Ctrl+V) enquanto que não se produz uma cópia física sem papeis, tinta e máquinas de impressão.

O serviço especial que se faz no que diz respeito a livros electrónicos é de armazenamento e transferência. O armazenamento de um livro de 1 MiB, num disco que custe 80 euros e tenha um TiB de espaço, custa menos de 0.01 cêntimos. A transferência do mesmo MiB numa ligação com 1 MBit de upload que custe 50 euros por mês, custa menos de 0.05 cêntimos. O custo percepcionado do armazenamento e distribuição de um livro electrónico por parte da Amazon, é inferior a 0.1 cêntimos.

Tudo isto para dizer apenas que eu (e imagino bastante mais gente) acho que o preço dos livros electrónicos (e não é só na Amazon) são bastante mais caros do que "deviam". Não só pelo baixo valor que damos a algo que não existe "na realidade", mas também pela falsa promessa de que os livros electrónicos vão ajudar a poupar dinheiro a quem os utilize muito. Embora não acredite que não tenham feito estudos sobre o valor óptimo pelo qual vender os livros electrónicos deles, acho que era um serviço que chegava a muito mais gente se os preços fossem mais acessíveis, e melhor que tudo, mais de encontro às expectativas das pessoas no que diz respeito a este novo meio de leitura. Ajudando a espalhar a prática talvez conseguissem a longo termo uma maior adopção e mais lucros. Digo eu, que nada sei de economia.

Uma nota final, estive muito tempo sem escrever nada principalmente porque tinha este post relativamente grande a entupir os rascunhos. De ora em diante vou tentar ser mais sucinto no que tenho a dizer para evitar ficar tanto tempo sem postar nada de novo bem como para mandar mais ideias cá para fora. Espero conseguir.

Desde que comecei a escrever este post que ele mudou muito pouco e entretanto não fiz posts com outras ideias que tenho tido. Muito aconteceu que gostaria de ter partilhado (e espero ainda partilhar), entre elas o facto de ter sido nabo o suficiente para ter perdido o meu Kindle (de uma das maneiras mais parvas que pode haver), altura desde a qual ate já houve tempo de mandar vir um novo.

* Os termos de leitura deste blog indicam claramente que qualquer informação revelada aqui não pode ser usada legalmente contra mim. Ao abrirem esta página estão a concordar com eles.
** Até agora ainda não vi nenhuma loja de livros electrónicos muito diferente.
*** Quando não é explicitamente proíbido.
**** O Kindle também dá para emprestar (alguns) livros, mas só uma vez por livro e durante 14 dias.

4 comentários:

  1. se usares o precário do serviço S3 da Amazon (há-de servir de limite superior aos custos da Amazon de armazenamento, transferência e redundância).
    O custo de armazenar 1000 livros sai a 14 cêntimos por mês e o custo de transferir 1000 livros, sai a 15 cêntimos.

    Um dos factores que não consideraste na comparação das edições Kindle com as normais, é que a versão Kindle não tem o tempo de transporte que uma versão em papel, ao ter de ser transportada até ti. Nesse caso, é possível que pessoas que não queiram esperar por ter o livro, não se importem de pagar mais um pouco para começar a ler logo o livro.

    Agora pagar 5 euros por uma versão digital de um livro em domínio publico...

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  2. Sim, usar o preçário da Amazon até é boa ideia, e ajuda a pôr em perspectiva os preços desses serviços que tanto nos cobram.

    Quanto à comodidade de se ter um livro electrónico JÁ em vez de daqui a uma semana, lembrei-me dela, mas não escrevi sobre isso. Como disse estava com alguma pressa em desentupir os rascunhos.

    Nesse caso da entrega imediata, é fácil imaginar alguém que já pagou $139+ por um Kindle a incluir essa comodidade no preço que pagou pelo aparelho. Ainda mais porque o aparelho que permite recepção 3G é $50 mais caro e todos os Kindle Books têm umas letrinhas pequeninas a dizer "inclui entrega wireless internacional usando a Whispernet".

    Portanto não só pagamos mais pelo Kindle supostamente mais cómodo, como também por cada livro (mesmo que não utilizemos o serviço) pagamos a taxa de receber coisas por 3G.

    Outra coisa que também é fácil de imaginar é que é tão barato produzir um livro electrónico (é basicamente um produto colateral do processo normal de criar um livro), armazená-lo e transferi-lo, que não se vê razão nenhuma para a Amazon não disponibilizar as versões electrónicas de graça para quem compre um livro físico. Assim os compradores não tinham de esperar pelo livro para o começarem a ler, e acabavam à mesma por ter um livro físico que podiam emprestar, rabiscar, e cheirar, ao mesmo tempo que tinham uma versão imediata e cómoda para outras situações.

    Os preços exorbitantes praticados na venda de livros electrónicos servem apenas para maximizar o lucro adjacente do facto disto ser uma novidade. Quando deixar de ser novidade, espero que comecem a baixar e que surjam lojas concorrentes a implementar ideias mais em sintonia com o valor dado a versões electrónicas pela maioria das pessoas.

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  3. eu queria muito comprar um kindle mas tenho visto que há poucos livros em portugues e os que encontro são uma tremenda seca. o que me sugeres?

    paulacorreialeitao@sapo.pt

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  4. Tenho de admitir que não procurei muito sobre o assunto de ebooks em Português. Imagino que, sendo o mercado mais pequeno, haja pouca candonga desse tipo de livros.

    Mas nem todas as notícias são más, a loja online da Porto Editora(1) também vende livros digitais, alguns em Português.

    Eu sugerir-te-ia dares uma olhada pela loja da Porto Editora e veres se a oferta deles te agrada e depois considerar comprar um leitor de ebooks que permita ler os livros que eles vendem(2), se o teu foco principal forem livros em Português.

    O mal destas coisas é que os livros da loja vêm com DRM o que implica que não podes pegar neles e converter (usando o Calibre, por exemplo) para um formato que o teu leitor perceba, tendo de te
    sujeitar a usar um leitor que os consiga ler.

    (1) http://www.wook.pt/
    (2) http://www.wook.pt/help/help/topic/ebooks

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