23 de julho de 2011

Responsabilidade

Estava no outro dia a discutir responsabilidade com dois amigos meus. A conversa revolvia em torno de sobre-endividamento (de pessoas/famílias) e era da opinião de um de nós que a responsabilidade destas situações recaía completamente na pessoa que contraí dívidas em cima de dívidas que não tem hipóteses de pagar.

A ideia é relativamente simples, se as pessoas que contraem os empréstimos tivessem mais cuidado, se informassem melhor do que se estão a meter e olhassem melhor de uma forma racional para o que implica contrair aquele empréstimo, não chegavam à situação desesperante de ter empréstimos para pagar empréstimos que não conseguiram pagar anteriormente. Para ele cabe a quem vai contrair empréstimos informar-se adequadamente sobre o que está a fazer, ou tomar em si mesmo a totalidade das consequências e responsabilidade da decisão.

Embora seja principalmente a pessoa (e potencialmente os seus dependentes) quem sofre as consequências da decisão final, não é tão preto no branco para mim que a responsabilidade recaia sempre completamente em quem toma uma decisão deste calibre. Para tentar explicar melhor o meu ponto vou usar uma metáfora bastante mais simples do que a contracção de um empréstimo, a queda devido a uma casca de banana.

Na visão do meu amigo, estando uma casca de banana no chão e alguém caindo devido a ela, a responsabilidade é completamente da pessoa que caiu. Está nos seus deveres olhar para onde anda com a atenção devida para evitar escorregar em cascas de bananas. Isto tudo era verdade se as cascas de banana se materializassem em locais aleatórios. Mas as cascas não se materializam.

Do outro lado da casca de banana há geralmente alguém que a deixou no local onde ela se encontra actualmente. Há aqui duas situações muito distintas no que diz respeito à responsabilidade pela queda: A primeira é a situação da pessoa que acabou de comer uma banana e deitou (ou deixou cair) a casca para o chão. A segunda é a situação da pessoa que colocou a banana no chão propositadamente para que alguém tropeçasse nela. Parece-me óbvio que, mesmo nestes dois casos, a responsabilidade da queda não recai totalmente na pessoa a quem aconteceu, e ainda mais óbvio que há uma diferença importante entre a responsabilidade de quem deixou a casca no sitio por acaso e a de quem a deixou no sitio propositadamente.

E se quem deixa uma armadilha para outros caírem nela tem responsabilidade na queda, ainda mais responsabilidade tem aquele que propositadamente coloca a casca num local que sabe que é bastante provável que alguém que passe por lá caia, seja porque a visibilidade é má ou porque há alguma distracção frequente. E também não excluo da responsabilidade quem oferece incentivos (por exemplo, um ordenado) para que hajam pessoas a fazer cair o maior número possível de pessoas (talvez porque têm uma clínica perto).

Quando há uma sociedade inteira a impelir os indivíduos a quererem mais apenas para terem mais, quando há pessoas a estudar afincadamente como convencer outros a comprar o que eles querem que seja comprado, e especialmente quando há pessoas a contratar as melhores pessoas para tirarem partido das fragilidades dos compradores, é difícil para mim dizer que a responsabilidade recai totalmente em quem compra, em quem incorre em dívidas.

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